sexta-feira, 20 de maio de 2011

Scientia Vinces


    "Vencerás pela ciência" , é o que se encontra grafado no brasão da Universidade de São Paulo, o lema da maior universidade da América Latina. Todos os dias, milhares de alunos atravessam os portões da Cidade Universitária em busca do conhecimento que tanto lutaram para conseguir, para vencer pela ciência. Impossível fazer isso com a onda de violência que hoje se abate sobre o maior campus da universidade, no Butantã, zona oeste da capital paulista.
   Há tempos a violência vem preocupando os alunos da instituição, mas do início desse ano para cá, as coisas passaram do limite. Sequestros-relâmpago e assaltos nas imediações da Biblioteca das Químicas, Instituto de Química e Faculdade de Ciências Farmacêuticas, da qual faço parte, tornaram-se recorrentes, além de outras tantas ocorrências no campus, como assaltos próximo ao portão que os usuários da CPTM utilizam para acessar a universidade. O acontecido na última quarta-feira, 18 de maio, foi a gota d'água. Nunca pensei que veria a universidade que dá tanto orgulho ao meus pais pelo fato de sua filha estar nela apareceria nas páginas dos jornais por uma ocorrência lastimável como essa.
   Devo confessar que ontem, ao chegar em casa, chorei. Chorei ao ver aquele lugar lindo, que deveria ser um berço de cultura, artes, ciência, transformar-se em um um berço de violência, insegurança, medo. Ver a bandeira da USP tremulando a meio mastro na tarde fria de ontem, sabendo o motivo, me causou uma das sensações mais tristes da vida.
   Chega. Eu não quero mais. Não quero mais ter medo de ir na biblioteca estudar porque passou das 17h e vai ficar escuro e perigoso pra voltar, não quero mais não poder nem atravessar uma rua sozinha sem ter medo de ser atacada, quero de volta o direito de ir a uma festa em segurança, após ter estudado e trabalhado a semana inteira. Não quero mais também, abrir uma página de internet e ver a forma como a imprensa tem tratado as coisas, colocando uma foto em que o corpo do rapaz assassinado aparece no local do crime. Eu não o conhecia, não sabia nem que cara tinha até uma antiga foto sua ser divulgada, mas tenho certeza de que seus amigos, sua família, as pessoas que o amam, jamais queriam ver uma cena como aquela, mas lembrar-se dele pela pessoa que foi. Assim como eles, eu jamais quero ver um amigo meu dessa forma, como se ele estivesse sozinho, como se sua vida não valesse absolutamente nada.
   Comunidade USP, nós não podemos mais estar a mercê desse tipo de coisa, a polícia tem que se fazer presente dentro do campus, imediatamente. Aos que acham que essa não é a solução, eu digo: o debate sobre a forma de garantir a segurança dentro da universidade deve ser obrigatório, mas não tem como garantir que toda essa violência diminua agora sem a presença da polícia. População em geral, exijam sua segurança e a nossa dentro da Cidade Universitária, é um direito e só poderemos lhes retornar com qualidade o enorme investimento feito em nossa educação por meio dos impostos, se estivermos seguros. Comunidades de outras universidades, lutem por sua segurança, é impossível desenvolver pesquisa de ponta preocupado se no dia seguinte você estará vivo para continuá-la. Está na hora de deixar de esperar sentado e pressionar, exigir atitudes concretas.
   Aguardo ansiosamente pelo dia em que todos poderemos vencer pela ciência, e não vê-la vencida pela violência.


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