quarta-feira, 12 de outubro de 2011

   Eu ando sumida, né, Letras? Faz mesmo um tempão que não passo por aqui. A última vez foi com esse textinho aí embaixo, que eu já tinha escrito fazia tanto tempo. Tempo. Parece que quanto mais ele passa, menos tempo eu tenho de vir aqui passar meia horinha com você. Sempre tem um relatório, uma prova, um seminário pra fazer. E o que eu mais gosto de escrever, vai ficando de lado, sem tempo de aparecer.
   Mas não pense que eu te esqueci. Se não tenho mais tempo de te visitar, todos os dias penso em você. Sei que vai estar sempre aqui, só esperando, esperando o dia, o momento em que eu vou aparecer de surpresa e  falar um montão de bobagem e você, sempre solicito, vai aceitar tudo que eu quiser dizer, e mostrar para o mundo o que eu disse.
  Você é como aquela dúzia de cadernos dentro da minha gaveta, Letras. Apesar da pouca frequência com que o vejo, sempre é bom voltar e ver tudo o que eu já coloquei em você. Lendo você, eu lembro de como eu era, de como eu pensei que seria e como sou hoje. E dou risada. E fico feliz de ter você como ouvinte, como amigo, como depositário dos meus pensamentos.
   Agora preciso ir, já estou aqui cochilando, não dormi direito noite passada e tive prova hoje, estou cansada. Você já sabe, né? Depois eu volto. Não sei se amanhã, não sei se daqui a muito tempo, mas eu volto. E como você bem sabe, cheia de histórias para te contar... 




O que está escrito em mim comigo ficará guardado, se te dá prazer
A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer?
Só peço a você, um favor , se puder
Não me esqueça num canto qualquer...

domingo, 3 de julho de 2011

Quem é você?

Aqui vai um pequeno texto escrito faz, pelo menos, dois anos, que eu nem lembrava mais que existia, e encontrei agora, em meio a uma arrumação de meus escritos. Arrepiante atualidade, certas coisas nunca mudam mesmo...

- Alô.
- Só liguei pra ouvir a sua voz...
- Quem tá falando?
- Alguém que não para de pensar em você.
- E esse alguém não tem nome?
- Se eu disser você vai desligar...
- Se não disser é aí que eu desligo mesmo!
- E se eu te der dicas?
- Pu-pu-pu-pu...
Trim!
- Alô!
- Você desligou na minha cara!
- A ligação caiu por falta de informações.
- Que diferença faz quem sou eu?
- A diferença entre você ouvir minha voz e não ouvir.
- Quem garante que eu te direi meu nome verdadeiro?
- Pu-pu-pu-pu...
Trim!
...
Trim!
- Pare de ligar ou eu ligo pra polícia!
- Não era zangada que eu queria ouvir sua voz...
- Então diga quem é, não estou brincando!
- Talvez eu nunca tenha coragem de te dizer quem sou de verdade...
- ...
- Você ainda está aí?
- Enquanto isso acontecer, você não poderá ouvir minha voz.
- Isso é uma metáfora da nossa vida?
- Metáfora? Não, é o retrato da sua. Eu vou desligar. E não ligue mais até saber responder quem é...

Nathi Galvão

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Scientia Vinces


    "Vencerás pela ciência" , é o que se encontra grafado no brasão da Universidade de São Paulo, o lema da maior universidade da América Latina. Todos os dias, milhares de alunos atravessam os portões da Cidade Universitária em busca do conhecimento que tanto lutaram para conseguir, para vencer pela ciência. Impossível fazer isso com a onda de violência que hoje se abate sobre o maior campus da universidade, no Butantã, zona oeste da capital paulista.
   Há tempos a violência vem preocupando os alunos da instituição, mas do início desse ano para cá, as coisas passaram do limite. Sequestros-relâmpago e assaltos nas imediações da Biblioteca das Químicas, Instituto de Química e Faculdade de Ciências Farmacêuticas, da qual faço parte, tornaram-se recorrentes, além de outras tantas ocorrências no campus, como assaltos próximo ao portão que os usuários da CPTM utilizam para acessar a universidade. O acontecido na última quarta-feira, 18 de maio, foi a gota d'água. Nunca pensei que veria a universidade que dá tanto orgulho ao meus pais pelo fato de sua filha estar nela apareceria nas páginas dos jornais por uma ocorrência lastimável como essa.
   Devo confessar que ontem, ao chegar em casa, chorei. Chorei ao ver aquele lugar lindo, que deveria ser um berço de cultura, artes, ciência, transformar-se em um um berço de violência, insegurança, medo. Ver a bandeira da USP tremulando a meio mastro na tarde fria de ontem, sabendo o motivo, me causou uma das sensações mais tristes da vida.
   Chega. Eu não quero mais. Não quero mais ter medo de ir na biblioteca estudar porque passou das 17h e vai ficar escuro e perigoso pra voltar, não quero mais não poder nem atravessar uma rua sozinha sem ter medo de ser atacada, quero de volta o direito de ir a uma festa em segurança, após ter estudado e trabalhado a semana inteira. Não quero mais também, abrir uma página de internet e ver a forma como a imprensa tem tratado as coisas, colocando uma foto em que o corpo do rapaz assassinado aparece no local do crime. Eu não o conhecia, não sabia nem que cara tinha até uma antiga foto sua ser divulgada, mas tenho certeza de que seus amigos, sua família, as pessoas que o amam, jamais queriam ver uma cena como aquela, mas lembrar-se dele pela pessoa que foi. Assim como eles, eu jamais quero ver um amigo meu dessa forma, como se ele estivesse sozinho, como se sua vida não valesse absolutamente nada.
   Comunidade USP, nós não podemos mais estar a mercê desse tipo de coisa, a polícia tem que se fazer presente dentro do campus, imediatamente. Aos que acham que essa não é a solução, eu digo: o debate sobre a forma de garantir a segurança dentro da universidade deve ser obrigatório, mas não tem como garantir que toda essa violência diminua agora sem a presença da polícia. População em geral, exijam sua segurança e a nossa dentro da Cidade Universitária, é um direito e só poderemos lhes retornar com qualidade o enorme investimento feito em nossa educação por meio dos impostos, se estivermos seguros. Comunidades de outras universidades, lutem por sua segurança, é impossível desenvolver pesquisa de ponta preocupado se no dia seguinte você estará vivo para continuá-la. Está na hora de deixar de esperar sentado e pressionar, exigir atitudes concretas.
   Aguardo ansiosamente pelo dia em que todos poderemos vencer pela ciência, e não vê-la vencida pela violência.


sexta-feira, 8 de abril de 2011

   Hoje não foi um dos melhores dias. Acordei já com a notícia da tragédia inenarrável ocorrida no Rio de Janeiro. Ainda fico procurando palavras para explicar a impressão que tudo isso me causou. O que mais me chocou mesmo, foi tamanha brutalidade contra crianças. Não apenas as que faleceram e as feridas, mas as que viram tudo, ou que de algum modo ficaram sabendo. Nenhuma criança devia passar por isso, nenhuma criança merecia ver os amigos sendo mortos, pedindo pela própria vida com a inocência que lhes é inerente. Um lugar como a escola não deveria ser palco de um crime hediondo como esse, esse lugar de ensino, de cultura, de socialização, de formação de caráter. Caráter. Será que é possível usar essa palavra com um pessoa capaz de causar tanta dor? Prefiro não fazer um juízo de valor nesse momento, pois não sei o que pensar a respeito dessa pessoa no calor da situação. Só sei que por fim à vida de uma criança, é muito mais do que simplesmente por fim a uma vida, o que já é inaceitável. É acabar com os sonhos, com o futuro, com o que ainda resta de puro nesse mundo. Reflitamos a respeito de que tipo de coisa estamos fazendo com esse mundo e qual a nossa parcela de responsabilidade sobre a destruição do nosso futuro.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A Campus Party e o SWU

   Eu prometi um montão no twitter e cá estou eu, para falar da Campus Party! \o/ Era pro post ter saído antes, mas andei meio capenga nesses dias, sem ter muito como escrever algo decente, então quis esperar ficar um pouco melhor pra poder dar as caras por aqui. Já adianto que não será um post de cobertura, estive no evento apenas na sexta-feira, dia 21, mas já foi o suficiente para eu ter um monte de coisas pra dizer aqui! Então senta que lá vem história! =)
   A quarta edição brasileira da Campus Party, que já é o maior evento de tecnologia do mundo, aconteceu na semana passada, entre os dias 17 e 23/01, no Centro de Convenções Imigrantes, em São Paulo. Foram 6800 apaixonados por tecnologia reunidos durante uma semana envolvidos em uma programação cheia de palestras, mesas-redondas, debates e oficinas nas mais variadas áreas como Ciência, Criatividade, Inovação e Entretenimento Digital, além é claro, da conexão de alta velocidade permitindo rápidos downloads e da experiência de conhecer novas pessoas com os mesmos interesses. Além disso, havia também a área Expo, aberta ao público, em que as empresas presentes se propuseram a mostrar seus lançamentos. Curiosa e nerd que sou, estive por lá na sexta-feira em busca de coisas legais para mostrar aqui e, como ninguém é de ferro, quem sabe alguns brindes! =D
   Cheguei no pavilhão por volta das 14h e já fui correndo assistir uma palestra que me interessou: Como profissionalizar seu blog. Após a palestra, percebi que o nosso querido Letras está longe de ser um blog profissional, mas tudo bem, porque esse nem era mesmo o intuito dele. A questão é que no meio dessa palestra, começou uma chuva daquelas que temos visto bastante aqui em São Paulo, muita ventania e...blecaute. Do palco principal foi pedido para que todos ficassem em seus lugares, pois os geradores entrariam em ação em no máximo quinze minutos. O que é claro, não necessariamente quis dizer que os campuseiros ficaram em seus lugares, aliás, essa foi a melhor hora para se circular pela arena, por imagens como essa:

                                            
Caro campuseiro da foto, se você vir esse post e não quiser sua imagem exibida aqui, deixe um comentário que a foto será retirada o mais rápido possível. Se não tiver problemas em manter sua imagem, deixe um comentário com seu nome e de onde você é, para que eu possa inserir no post! =)

   Mas esse foi apenas um dos muitos cartazes digitais divertidíssimos exibidos pelos campuseiros durante a falta de luz. Consegui fotografar apenas esse mesmo, mas havia gente com cartazes dizendo "2012 está próximo", outro com a imagem de uma vela na tela do notebook. É fato que são momentos e manifestações como essas que fazem da Campus Party um evento único, mas é importante lembrar que no dia 18/01, terça-feira, já havia acontecido um blecaute e o evento ficou às escuras por um bom tempo, já que não havia geradores. Só foram colocados no evento após esse incidente e ainda assim demoravam de cinco a dez minutos para reestabelecer a energia. Pros próximos anos, acho importante geradores desde o começo do evento e de preferência, automáticos, para que haja o mínimo de danos aos equipamentos do pessoal. 
   Agora, indo para o assunto que me inspirou a escrever...a outra palestra que assisti na Campus Party foi a exposição do case SWU. SWU, antes de ser aquele festival que aconteceu em Itu ano passado, "é um movimento de conscientização em prol da sustentabilidade que tem o intuito de mobilizar o maior número possível de pessoas em torno da causa, mostrando que, por meio de pequenas ações, com simples atitudes individuais do seu dia a dia, é possível ajudar a construir um mundo melhor para se viver.", de acordo com o website do próprio movimento. A sigla, SWU, já diz tudo: Starts With You - Começa Com Você. O movimento parte do pressuposto de que pequenas atitudes são capazes de gerar grandes mudanças. E foi exatamente esse tom que predominou durante toda a palestra. Diferentemente da maioria dos movimentos focados na sustentabilidade (também conhecidos como eco-chatos), que enxergam a sustentabilidade com apenas dois lados (ou é ou não é sustentável), o SWU vê a questão como algo maior e pensa que "A primeira coisa que você pode fazer para salvar o planeta é fazer alguma coisa." Eu, particularmente acho que esse pensamento torna as coisas muito mais espontâneas e faz com que a ação tenha um alcance maior, afinal, é muito difícil encontrar alguém que não se preocupa com a situação atual do planeta, a grande maioria das pessoas quer fazer alguma coisa, mas cada um tem seus limites e o jeito do SWU tratar a sustentabilidade é respeitando esses limites.
Então, é nesse momento que você me pergunta: "mas o que esse papo todo tem a ver com o festival?" e eu explico pra você: escutamos desde os tempos de escola que fechar a torneira enquanto escovamos os dentes, apagar a luz quando não estamos em determinado ambiente e etc, são atitudes importantes, mas não é exatamente o assunto mais interessante do mundo, certo? Os idealizadores do SWU sabem muito bem disso e precisavam de uma forma de chamar a atenção para essa questão, que mesmo não tão interessante vista superficialmente, é essencial para nossa sobrevivência nesse planeta. O jeito que eles encontraram, foi fazer um festival de música, que conscientizasse e ao mesmo tempo celebrasse o movimento. Festivais são eventos que exigem estruturas muito grandes e atraem muita gente e na maioria das vezes isso significa uma grande produção de resíduos, o que não faria muito sentido para um movimento que promove a sustentabilidade, não é? O SWU deu um jeito de contornar isso. Além de ações como espalhar o maior número de lixeiras possíveis (com coleta seletiva) no local do evento, buscaram soluções inovadoras, como um contâiner em que era possível que as pessoas que estavam no evento carregassem a bateria de seus celulares e do que mais precisassem. A energia para isso era captada por painéis solares e pequenas turbinas instaladas no contâiner. Assim, fazendo chuva ou Sol, era possível obter energia pelo vento. A energia não utilizada, foi convertida para atender outras partes do evento. Outra solução que eu achei muito boa, foi essa da foto abaixo:


   Esse frasquinho com tampinha de garrafa PET e jeito de tubo de ensaio gigante é um bota bituca. Durante a palestra, o pessoal da SWU disse que, apesar da quantidade de lixeiras espalhadas pelo evento, muitas pessoas acham que, assistindo um show, ter que andar alguns passos para jogar fora sua bituca de cigarro é ruim e acabam descartando-a ali mesmo. Agora imaginem se todos os fumantes do evento resolvessem fazer o mesmo! A solução que eles encontraram foi esse frasquinho, feito de garrafas PET recicladas, que foi distribuído no evento e onde os fumantes eram convidados a colocarem suas bitucas. Ele é pequeno, cabe no bolso sossegado e não tem problema colocar a bituca ainda acesa dentro, o plástico dele é bem durinho e não danifica. Quando cheio de bitucas, é só chegar no lixo mais próximo e descarregá-lo! Não é uma ideia SENSACIONAL? É claro que o ideal, para a convivência entre as pessoas e para os próprios fumantes, seria que eles parassem de fumar, mas essa já é uma forma dessas pessoas ajudarem o mundo em que vivem e quem sabe não sirva como combustível para que tentem se livrar desse vício? Achei uma ideia muito boa, não sou fumante mas peguei um pra mim, afinal, precisava tirar uma foto pra mostrar pra vocês e não precisa necessariamente ser bituca, dá pra jogar vários daqueles lixinhos que de vez em quando temos na mão no dia-a-dia e frente à falta de lixeiras, temos que guardar. Nossas bolsas agradecem! 
   Pra quem se interessar, a webpage do SWU é http://www.swu.com.br e conta tudo sobre o movimento, além de sempre ter notícias sobre sustentabilidade.
   Me despeço aqui depois desse big post que espero não ter cansado vocês! É a Campus Party mais uma vez abordando temas relevantes para o mundo atual e mostrando que vai muito além de um evento onde nerds se encontram para entrar na internet, como muitos pensam. Espero poder acompanhar a próxima edição!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

   Eu demorei muito tempo pra conseguir expor aqui tudo que tem se passado pela minha cabeça nesses últimos dias. Via as cenas e não conseguia falar, às vezes nem mesmo entender o que estava acontecendo. Os que me acompanham no Twitter (@nsgalvao), devem ter visto o que eu disse, que não era jornalista porque se fosse cobrir uma situação como a que o Rio de Janeiro está passando, não conseguiria falar nada. Estou aqui, nesse espaço em que me sinto tão confortável para dizer as coisas...e ainda não sei bem por onde começar.
   Vi tantas coisas nesses dias, e uma das que me impressionou muito foi a história de um homem que perdeu a família, a casa, e ainda assim está trabalhando como voluntário. Perdeu o que tinha de mais importante, e segue ajudando, para que outras pessoas não passem o mesmo que ele.
   Ver as imagens, ainda que pela televisão, choca. As pessoas choram, a dor de perder a família, a casa, outras choram assustadas por tudo que aconteceu. Vendo o noticiário, já chorei inúmeras vezes. Mas uma coisa que não sai da minha cabeça, é que, apesar de tudo, quando a noite chegar, vou deitar na minha cama quentinha e dormir segura. E a maioria dessas pessoas não poderá fazer isso. 
   Aqui, enfatizo o apelo que tantos outros já fizeram: doem, um quilo de alimentos, uma blusa que você não usa mais que seja. Já é um conforto, uma esperança, uma oportunidade de essas pessoas saberem que não estão sozinhas.
   Fiquei feliz em ver hoje na TV as pessoas se mobilizando tanto em Nova Friburgo. Indo doar sangue, ajudando no recebimento das doações, brincando com as crianças nos abrigos. No último post de 2010, desejei um 2011 cheio de amor para todos, lembram? (Relembre aqui.) Era disso que eu estava falando. É esse amor, de sair da sua casa em pleno domingo para ir fazer o bem para alguém, de descansar um pouquinho de tempo a menos para prestar solidariedade a quem está precisando tanto, era exatamente disso que eu estava falando. E fiquei feliz de verdade em perceber que esse mundo não está perdido, entre tantas catástrofes, e corrupção, sujeira e coisas absurdas que acontecem, ainda existe humanidade em nós, seres humanos.
   Desejo que todos que leram esse texto um tanto quanto confuso (bem-vindos à minha mente!) , ajudem, do jeito que puderem. Será valioso para essas pessoas nesse momento e diminuirá um pouquinho a sensação de impotência diante dessa tragédia. Clicando aqui , você vê onde é possível fazer doações aqui em São Paulo. Postos no país inteiro estão recolhendo donativos.


Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos     
Sem amor, eu nada seria...      
                                                                                                                                  

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Nosso Cinema Paradiso

   Ontem fiquei sabendo que o Cinema Belas Artes, ícone cultural paulistano, ia ser fechado. Já havia ouvido algo a respeito no meio de 2010, o cinema seria fechado pois estava sem patrocínio. Ontem, porém, o motivo era outro. Eles haviam conseguido patrocínio, mas o dono do imóvel não queria mais renovar o contrato de aluguel, pois tinha interesse em uma loja no local.
   Imediatamente lembrei de tantos convites que recebi de uma amiga minha, cinéfila de carteirinha, Ju Macari, para que eu fosse com ela em um Noitão, evento que já faz parte do calendário do Belas Artes e da cidade de São Paulo. E eu nunca fui. Na época fazia cursinho, no final da semana sempre estava cansada demais e sem pique pra encarar um programa como esse. No fim das contas ela se mudou, foi fazer faculdade em Florianópolis, e eu acabei não indo no Noitão. Depois outros amigos me chamaram para ir, ficamos de combinar, mas acabou não vingando.
   Eu nunca frequentei muito o Belas Artes, pra dizer a verdade, lembro com precisão de uma única vez que estive lá, fui assistir Harry Potter e a Pedra Filosofal. Sim, pode rir, eu fui ao Belas Artes assistir um filme que poderia assistir em qualquer outro cinema. Mas é exatamente isso o que faz desse cinema tão especial. Exibe filmes que a grande maioria dos cinemas exibe, mas não esquece jamais os clássicos, não esquece o motivo de sua existência. E tudo isso a preços bem menores do que os dos cinemas comuns.
   Não deixem o Belas Artes desaparecer. Como eu já disse, nunca o frequentei muito, mas não esqueço das tardes de sábado que passei no Gemini na minha infância e que agora só podem existir na minha memória, já que o querido cinema foi fechado ano passado. Nessa época de um cinema por shopping, não deixem que o cinema de rua desapareça por completo, como se ninguém se importasse com ele. Não há sala 3D capaz de substituir esses locais simples, mas suficientes para a apreciação do bom cinema, assim como não há efeitos especiais capazes de ofuscar um bom roteiro, o saber contar uma história, não há Avatar capaz de tirar o brilho dos Tempos Modernos de Chaplin. Não há tecnologia que consiga reproduzir o sentimento bom de encontrar-se com os amigos pessoalmente.
   Isso é o Belas Artes, cinema de excelentíssima qualidade, espaço gostoso para encontrar e ser encontrado pelos amigos, pelas lembranças, o nosso Cinema Paradiso paulistano. Não deixemos que ele tenha o mesmo fim.