segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Passados 20 anos

Postado em 28 de Agosto de 2009



 Passados 20 anos, aprendi mais coisas do que imaginei que aprenderia, ao passo que não sei nada, comparado ao que se há pra saber nesse mundo. Vi coisas que não queria ter visto e outras que muito ansiei, coisas boas e ruins, alegres e tristes, e coisas que simplesmente não se encaixam nessa dicotomia.
Já no meu primeiro dia, aquele mesmo frio e chuvoso 21 de agosto de 1989, vi morrer a eterna e brilhante metamorfose ambulante, Raul Seixas, ainda que eu só tomasse conhecimento disso tempos depois. Após alguns meses, vi cair o Muro de Berlim, mesmo que fosse demorar muito tempo para compreender o que isso significava. Vi a URSS ruir, a Guerra da Golfo começar, vi planetas e como é bonito o Sistema Solar nos livros comprados por meu pai quando eu ainda morava na barriga de minha mãe, e que ele jurava que despertariam meu interesse. Estão guardados comigo até hoje, e ainda não consigo explicar com palavras o magnetismo que pode me prender por horas olhando para o céu noturno. Vi o Plano Real ser implantado, o Brasil ser tetracampeão e lembro como se houvesse sido ontem do Dunga levantando a taça.
Lembro-me dos inúmeros cartões de aniversário com que presenteava minha mãe, todo ano com o mesmo padrão, um bolo que ganhava mais um andar a medida que aumentava a idade. Lembro-me de meu pai contando histórias da Turma da Mônica para eu dormir e dele mesmo pegando no sono antes de mim, lembro de nossas manhãs de domingo a bordo dos patins de botinha branca e, mais tarde, os poderosos inline. Lembro dos domingos de Páscoa em que acordava às sete da manhã, ansiosa por receber meu ovo, já tão procurado pela casa toda durante a semana e, não havendo ninguém acordado, cochilava no sofá, até alguém aparecer. Lembro-me da Guerra do Kosovo, assombrosos clarões cortando a noite na TV que cobria o conflito. Lembro que, mesmo sem entender, chorei. Chorei pelos mortos, pelas crianças que não tiveram a oportunidade de chegar à idade que tenho hoje, e por aquelas que cedo perderam a família e de certa forma, a razão de viver. Chorei pela situação devastadora que a guerra causa. Se naquela época eu não entendia, hoje, sabendo de muito mais coisas, entendo menos ainda.
Passados 20 anos, aprendi porque o céu é azul, porque nós falamos português, porque caem as folhas das árvores, porque ainda não é possível viajar no tempo. Apesar disso, ainda não entendi porque alguns acham normal matar pessoas por interesses, porque devo me acostumar com a mentira, se aprendi que ela é errada, porque ser ético tem sido motivo de chacota ultimamente em alguns lugares. Ainda não entendi porque devo achar normal crianças não estudarem e serem expostas à violência, às vezes dentro de suas próprias casas, porque devo achar correta a inversão de valores que venho enxergando nesses 20 anos. Não entendi a diferença em ter a pele clara ou escura.
Aprendi a sonhar quando nem tudo está as mil maravilhas, a parar nem que seja cinco minutos para não pensar em nada, aprendi que descobrir o mundo pode ser mais fácil do que se imagina, se os livros são seus amigos. Aprendi que a morte é dolorosa pra quem vai e pra quem fica, que o destino já está traçado, mas muda todo dia. Aprendi que a melhor terapia é um amigo e seu ouvido prestativo, o melhor antidepressivo depois do chocolate é o travesseiro, que mesmo ensopado de lágrimas, jamais abandona sua função. Aprendi que palavras podem ferir mais que punhais, mas que também são capazes de curar muitas dores. Aprendi que se pode magoar alguém com uma simples mensagem de texto.
Aprendi que um olhar é capaz de dizer tanta coisa, que fica praticamente impossível explicitar em palavras, que é possível amar e odiar ao mesmo tempo, pois se tratam de sentimentos irmãos. Aprendi que viver não tem definição, não se explica nem se ensina, só vivendo pra saber. E que em 20 anos, ainda que pareça pouco, há tantas coisas para se saber, viver, sonhar, aprender, quanto as estrelas do universo...
Que venham outros tantos 20's...

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